OLUBAJÉ
Olubajé
é um ritual sagrado comemorado geralmente no mês de agosto, em
homenagem a Obaluayê que alguns fazem sincretismo com São Roque e São
Lazaro.
Este
ritual antigamente tinha seu início sempre em meados de julho, que era
quando as comunidades pertencentes ao candomblé traziam o ibá
(assentamento) de Obaluayê ou Omolu de seu quarto de santo para o centro
de seu barracão, com suas vestes e paramentos, para ser ali
reverenciado por todos os adeptos e visitantes da dita comunidade, e ao
mesmo tempo para que fossem depositados em seu redor os donativos para
conclusão de seus festejos no mês de agosto. Estes donativos não se
resumiam em dinheiro, também eram ofertados vinhos, azeites, mel,
feijões, arroz, farinha, fubá, camarão seco, inhames, batatas, animais
de duas e quatro patas, velas, enfim tudo que fosse necessário para o
preparo das oferendas dedicadas aos orixás.
Quando
faltavam entre sete ou quatorze dias para festividade, dependendo da
casa, para conclusão deste preceito era preciso “pedir esmola”, em nome
do orixá, pois se acredita que além de ser o Deus das Doenças, também é o
Deus dos Desvalidos. Para isso, eram preparados tabuleiros: um com um
assentamento muito bem arrumado de Obaluayê, que seria carregado por uma
yawo com mais de três de anos de feita, ou seja, uma adosi, outro com
pipoca, e um outro com guloseimas como cocadas, fubá de amendoim, de
castanha, bolinhos, etc. Tudo pronto saía do barracão uma comitiva sob a
supervisão de ou de ekedes, ou alabe, ou ogans, etc. Iam às ruas não só
pra esmolar como para trocar pipocas e guloseimas por dinheiro e outros
materiais ofertado ao orixá. O dinheiro era depositado no tabuleiro
onde estava o assentamento do orixá, que só poderia ser contado no
regresso ao barracão. Esta comitiva nos dias que ficavam fora do seu
barracão de origem batia de porta em porta pedindo donativo, abordavam
as pessoas nas ruas com muito respeito e agradeciam sempre a atenção a
eles dispensada, com a palavra: “Olorunsan”, deus lhe pague.
Um
momento importante desta peregrinação era quando batiam na porta de um
barracão. Neste momento é que esta comitiva tinha que mostrar a educação
e os princípios recebidos de seu barracão de origem. A começar por não
levantar a cabeça por nada, salvo as ekedes e ogans responsáveis pela
peregrinação. Ao entrarem no barracão visitado já encontravam uma
esteira aonde iriam depositar seus tabuleiros, e várias outras a sua
volta aonde iriam se sentar e bancos para os responsáveis pela comitiva.
Depois
de algum tempo de descanso os visitantes começavam a rezar os seus
àdúrás (suas rezas), ao terminar tomavam bênçãos aos mais velhos e
trocavam de bênçãos entre si e com os outros que ali se encontrassem. As
filhas do barracão anfitrião corriam para preparar uma comida para os
visitantes; se esta visita fosse ao cair da tarde, elas se encarregariam
de acomodá-los até o dia seguinte. E durante a noite, algumas com ordem
do anfitrião se encarregavam de tomar conhecimento sobre o que
estivesse acabado nos tabuleiros para repô-los, para que no dia seguinte
pudessem continuar sua peregrinação com tranquilidade. Ao amanhecer
então, após terem tomado um café reforçado era chegada à hora de partir,
então todos se voltavam para o dono do barracão visitado batiam paó e a
benção. Um responsável pelo cortejo dizia: “EREBE OLORÚNSAN, BABA MIM,
ADUPÉ”, Deus lhe pague por tudo meu pai, obrigado. E escutavam um
alegre: OLÓRUN ÍBEWÓ SAN, e Deus lhe paguem pela visita, e assim a
comitiva seguia em frente para completar sua peregrinação. Quando
retornavam ao seu barracão de origem eram recebidos com festa pelos seus
superiores, irmãos e outros que faziam parte de sua comunidade.
Nesta
mesma noite ou na noite seguinte tinha início à segunda parte do ritual
com o sacrifício dos animais oferecidos aos orixás. Para então começar
os festejos próprios do Olubajé.
Para
falar de OLUBAJÉ é preciso me reportar ao início do século XX até os
meados dos anos noventa, quando este ritual e suas oferendas eram
sinônimos de fé, amor e paz. Este era o momento pelo qual às comunidades
que professavam o candomblé reuniam seus adeptos e simpatizantes para
festejar o deus das doenças de pele, Obaluayê. Momento este que seria
aproveitado para agradecer a ele a proteção recebida contra todos os
tipos de doenças e também para pedir paz e saúde para sua vida como para
os seus. A comunidade e seus simpatizantes se reuniam na maior união e
comunhão de fé para preparar os alimentos para um abundante banquete que
seria oferecido a todos os presentes nos festejos em homenagem a
Obaluayê. Este era um momento de reflexão em busca de saúde, paz,
liberdade, compreensão e união. Ocasião de extremo respeito, pois ali
estavam também em busca de milagres para alguns males que estivesse a
afligir, não só a si como para os seus. Sabiam também que este era o
momento único no decorrer do ano que todos tinham com exclusividade não
só agradar e reverenciar o Deus da peste e das doenças de modo geral,
como também cantarem seus lamentos, dançarem, além de serem agraciados
com um rico repasto dedicado a ele.
A PALAVRA OLUBAJÉ
.....Ademola
Adesoji, em seu livro “Ifá-A Testemunha do Destino e o Antigo Oráculo
da Terra de Yorubá”, escreve: bàjé = estragar.
Dr.
Eduardo Fonseca Junior, grande mestre africanista e historiador em seu
“Dicionário-Yorubá (Nagô) Português”, escreve: bàjé = corromper,
estragar (agora como corruptela afro-brasileira); bájé = menstruação e
bajé = comer com alguém. Assim como outros escritores fidedignos, nenhum
coloca olubajé como elemento de despacho como alguns acreditam e fazem
questão de passar para os incautos. A palavra Olùbàjé designa
o ritual onde são servidos alimentos aos participantes em uma
verdadeira comunhão com o Deus da Varíola. A mesma palavra, com gráfias
diferentes Olùbáje nos leva a um outro significado “Senhor da Putrefação”, um dos títulos de Obalùàiyé visto que as doenças sob seu dominio fazem com que suas vitimas apodreçam ainda em vida.
Então, vejamos:
Bajé = convite para comer.
Olu = senhor, mestre, dono.
OLUBAJÉ = CONVITE PARA COMER COM O MESTRE.
Termo original: OLU BA NI JÉ = O MESTRE NOS CONVIDA PARA COMER.
Com a elisão o I é derrubado, ficando apenas OLUBANJÉ = COMENDO COM O MESTRE........
........UM MANÁ DOS DEUSES
OBALUAYÊ: deus da peste, da varíola, da catapora, das doenças de pele, etc.
Seu
banquete era e é composto de um tipo de comida específicos para cada
orixá, e de dois ou três tipos especifico para ele, além disso, os
animais anteriormente sacrificados em sua homenagem. Tudo deve ser
preparado com muito amor, carinho e respeito; tudo muito bem cozido e
condimentado, a base de: camarão defumado, cebola, gengibre, noz
moscada, kioiô, gergelim, gemas de ovo, sal, azeite doce, azeite de
dendê, etc. O necessário para que o seu banquete se torne não só o mais
saboroso possível, como também medicinal pela ação de ervas, raízes e
frutos contidos no seu preparo. Muito
tem se discutido a quantidade de iguárias que devam ser oferecidas
durante a cerimônia... em meu conhecimento são num total de 21 comidas, 7
de caráter publico e 14 de caráter privado, que permanecem em uma
esteira dentro do Quarto de Santo
Enquanto
as pessoas filhas de yabás se desdobram no preparo das comidas, um
outro grupo colhe folhas de mamona as lava e as enxuga para só então
colocá-las em um balaio para que nelas sejam servidas as comidas.
DISTRIBUIÇÃO DOS ALIMENTOS
Este
era e é um momento mágico, que todos esperam, o qual tem início logo
pós as louvações com cânticos e danças de todos os outros orixás. Neste
instante começa o ritual do OLUBAJÉ. Quando então, ao som dos atabaques,
vão saindo do quarto de santo onde as oferendas estão arriadas e
imantadas pela energia dos orixás e pelos orins e àduras (cânticos e
rezas). Em primeiro lugar vem a yalorixá ou babalorixá com seu adjá
puxando o cortejo; em segundo uma yabá carregando uma ou duas esteiras,
em terceiro um filho (a) de santo carregando o balaio contendo as folhas
de mamona, e em seguidas, filhos e filhas, ekedes, ogans, etc. trazendo
sobre suas cabeças as panelas, oberós ou bacias contendo os alimentos,
os quais devem ser depositados sobre as esteiras estendidas no centro do
barracão, para serem distribuídas a todos iniciados ou não. Após
comerem o que desejarem junta as pontas da folha que pode estar
totalmente vazia ou não e rodam em torno da cabeça três vezes, para só
então depositarem dentro de outro balaio que já está a disposição para
este fim, pois tudo faz parte das oferendas e logo no amanhecer do dia
seguinte irá ser entregue às águas ou as matas.
Outra
fato importante, é que o cântico, tanto da saída do quarto com os
alimentos sobre a cabeça, como enquanto se alimentam até o final da
distribuição dos mesmos quando se dá por encerrado este ritual deve ser
este:
E ajeun bó
Olubajé ajeun bó
E, contração de èyi = isso, isto, este, esta.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Olubanijé = Olubajé = convite para comer com o mestre.
Ajeun = comida, comer.
Bó = alimentar, comer.
Tradução: ISSO É COMIDA PARA NOS ALIMENTAR, O MESTRE NOS CONVIDOU PARA COMER.
Texto:
Pai Wilson d'Oxum (Bambawara)